Assassina de borboletas.

Cansei. Cansei de ficar lendo os pensamentos das pessoas escritos na cara delas enquanto ando na rua. Cansei de decifrar risadas e comentários em conversas aleatórias quando sei que estão rindo de mim. Eu não aguento mais essa sobriedade relutante em que minha psique se encontra.
É irritante. A única coisa em que eu consigo pensar é que as pessoas estão me vigiando, a ansiedade de pensar sobre me isso me faz ficar na beira do abismo da porta da dispensa. Quando dou por mim, estamos : eu, a dispensa e as embalagens vazias do que quer que seja.
Minha força de vontade já se esvaiu, junto com toda a comida que insiste em entrar pela minha boca nos momentos mais críticos. Eu não quero mais isso! São sempre as mesmas juras 'uma mordidinha não vai me fazer mau' , 'só um pedacinho, não tem problema' . E eu sei bem que não é assim. De que adianta ficar o dia todo cultivando minhas borboletas se, no fim do dia, eu as mato soterradas?
Sim, porque sempre que minhas lindas borboletas fluorescentes estão voando, e emitindo seus zumbidos dentro de mim, eu faço as mesmas juras falsas e me permito apenas um pedacinho. Que vira uma devastação. Mato minha fazenda de borboletas brilhantes e me recolho numa repulsa que quase me cega.
Não posso mais. Não posso mais continuar me fazendo essas juras que não me servem de nada. Acabou. Não posso me permitir mais isso. A partir desse segundo eterno, nada mais que me faça mastigar meu ego vai entrar pela minha boca! Hoje é o último dia de promessas.